quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

AGROECOLOGIA E OS BENEFÍCIOS QUE A NATUREZA PODE TRAZER

O agricultor que preserva as florestas e mantém espécies arbóreas próximas obtém vantagens importantes para a sua lavoura, tais como disponibilidade de água, presença de insetos que polinizam a plantação e de pássaros que controlam pragas e doenças.
Foi o que constatou um estudo da Embrapa realizado durante seis anos junto a agricultores assentados da localidade de São José da Boa Morte, no Município de Cachoeiras de Macacu, interior do Rio de Janeiro.
As vantagens já foram percebidas com o aumento dos ganhos dos produtores que reduziram a quantidade de insumos aplicados, aumentaram a produtividade e ainda puderam ter uma nova renda com a venda de produtos das árvores frutíferas introduzidas na lavoura.
O objetivo da pesquisa era transformar práticas produtivas intensivas, conciliando a produção de alimentos com a conservação da biodiversidade e dos fragmentos florestais.
O trabalho continuado junto a alguns produtores não só adequou práticas agroecológicas à realidade de suas lavouras, como também comprovou a importância de plantar árvores e de preservar as florestas nativas próximas às plantações.
A forma convencional de fazer agricultura durante anos, sem tomar os devidos cuidados, aliada à falta de árvores, transformou as áreas agrícolas em barreiras. Quando próximas aos fragmentos florestais, essas áreas trouxeram algumas consequências para os ambientes naturais.
Um deles foi o fenômeno conhecido como efeito de borda, que provoca redução da quantidade de espécies na parte do fragmento florestal que fica mais próxima à área de plantio e se propaga para o seu interior quanto mais intensivo é o sistema produtivo.
Para os cultivos, as consequências também foram observadas. Os pesquisadores constataram, por exemplo, a diminuição e até o desaparecimento de algumas espécies de vespas nas lavouras distantes de fragmentos de floresta ou cercadas por cultivos com uso intensivo de agrotóxico.

As vespas em geral habitam áreas naturais e frequentam os cultivos, possuindo um papel importante na polinização de diversas espécies vegetais e são de extrema importância para o controle de insetos-pragas.
A pesquisa aponta que foi preciso levantar os impactos daquele manejo sobre o meio ambiente, mostrá-los para a comunidade e explicar sobre os benefícios que aquela floresta poderia lhes trazer. Os pesquisadores mostraram que a relação com a floresta deveria ser uma espécie de uma troca de benefícios.
A pesquisa foi baseada em três pilares: o conhecimento da biodiversidade nativa, relacionando-a com o potencial econômico; o estudo das técnicas já existentes para a inserção de árvores na paisagem, relacionando-as aos interesses dos agricultores; e a adaptação das técnicas à realidade do agricultor que não pode deixar de produzir e obter renda.
A ciência tem conhecimento de que quanto mais inóspitas são as lavouras, menos chance de vida e maior perda de biodiversidade. Mas somente o argumento ambiental não é suficiente para convencer o agricultor. E, por isso, o trabalho dos pesquisadores passou também por um período de aproximação com a comunidade.
Nos três últimos anos de projeto, tendo como base os levantamentos florísticos realizados sobre espécies nativas nos fragmentos e a ajuda e conhecimento dos agricultores, os pesquisadores fizeram um estudo etnobotânico das espécies.
O capim fica mais verde com a sombra das árvores que também abriga os animais, diminuindo a desidratação.
                               
Com a introdução de árvores frutíferas, os agricultores diversificaram a sua renda com a venda das frutas. A possibilidade de comercializar os frutos das espécies nativas é um fator que tem chamado a atenção dos agricultores.
Para a Embrapa, as estratégias escolhidas para introduzir árvores nas propriedades foram bem recebidas porque trabalharam com espécies indicadas a partir do conhecimento tradicional dos produtores.
Os agricultores possuem um valioso conhecimento empírico, o que lhes permite dominar demandas climáticas e de solo dessas espécies nativas, aspectos às vezes desconhecidos pela pesquisa científica.

Os impactos econômicos já são sentidos pelos agricultores, seja com a venda dos novos produtos oriundos dos sistemas agroflorestais ou pela redução dos insumos aplicados em suas lavouras.

A agricultura agroecológica e a construção de uma produção orgânica sustentável só é possível com o auxílio da biodiversidade local e com a conscientização dos agricultores dos benefícios que a natureza pode trazer.